segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A cara desse povo.

Hoje estava pensando sobre coisas que me chamam a atenção por aqui em especial algumas frases pela frequência que elas são repetidas. E num ensaio fuleiro de etnologia, resolvi compilar e analisar. Antropologia de buteco, tipo cachaça barata! Quer uma dose? Vamos lá!

A palavra número 1: "Desolé" e suas variações "Chui desolé",“vraiment desolé” e "Desolé, Monsier". Essa frase tem uma função social interessante pela sua ambiguidade. Tanto um lamento de verdade, quanto problema seu... O que me pode ser dois lados de uma mesma moeda: Gentileza e desinteresse.



Número 2: "Sera pas long" Não que eles acreditem que não vai demorar, mas de tanto repetir a gente acaba acreditando que não demora mesmo e isso acaba "acalmando" digamos assim. Como resposta a um “sera pas long” pode rolar sempre um "Prenez votre temps!"

Número 3: "Pas grave". Serve pra tudo depois de apresentar problema segue-se um "pas grave". Por exemplo, você percebe que demorou uma hora pra tentar explicar algo e a pessoa te informa que não é ali o lugar para resolver o problema. Você manda um "desolé" e a pessoa devolve com um "pas grave" ou uma de suas variações: Derranger vous pas, ne vous enquieter pas, pas de problème, etc.

Mas para mim essas e outras frases falam de uma característica forte do atendimento ao público e das relações em geral por aqui: a gentileza! As pessoas em geral são gentis, até porque se não forem perdem a clientela. Diferentemente da cidade de onde venho, em que muitas vezes parece que as pessoas que atendem público estão fazendo um favor em fazerem sua obrigação (desculpem o desabafo). O que não acontece em outras cidades do Brasil e nem por aqui também. Até porque se a pessoa for mal educada aqui ela não recebe pourboire (gorgeta) que é bem interessante (entre 10 e 15% do valor do gasto) e não vem embutido na conta. E num pensamento viajante, uma gentileza aqui pode evitar uma guerra ali... Sei lá!

Mas parando de viajar um pouco e indo pra um plano mais prático, em geral as pessoas são gentis, mas são humanas e ser humano é falho em qualquer lugar. Às vezes a gentilleza pode ser acompanhada de ironia ou piadinha e essas nuances sutis são difíceis de ter certeza, principalmente porque elas não são claras, por natureza. Enfim, tem horas que escutar um “desolé” depois de um dia inteiro tentando resolver um problema da vontade de brigar, mas o que se pode fazer. Nada! Só continuar tentando. Outra situação que passei por aqui: Por duas vezes fui abrir uma porta para duas senhora em dias e lugares diferentes, uma me respondeu: "Chui capable", a outra "Merci c'est gentille". Enfim a gente nunca sabe o que a gente vai encontrar. Aprendi uma coisa com isso: antes de ajudar, pergunto se a pessoa quer ajuda. Essas são pequenas dificuldades de recomeçar que muitas vezes a gente tem que passar para poder avaliar. Mas preparação nunca é demais.

`A tantôt!


Pedro

sábado, 15 de agosto de 2009

Ça fait beau, ça fait chaud!

Olá Amigos!

Quanto tempo sem postar, né! Como vcs sabem não é desinteresse. É falta de tempo. Bem vamos o post!

Novidades, muitas. Primeiro, previsão de calor até sabe lá Deus quando. Tá quente pra valer, fez 32 C hoje. Ouvi de um casal de baianos que o calor tá grande, pensa se não tá quente! E olha que eles estão como nós, recém-chegados do Brasil. Mas vamos tentar aproveitar, como se faz por aqui "Il faut profiter l'été". Piscinas públicas cheias, são muitas, incrível ao meu ver. Aqui perto de casa mesmo tem 2. (Que vão fechar mês que vem por causa da volta as aulas... ) Porém andando pelo Centre d'achat (shopping) Laurier, já temos visto roupas de outono nas vitrines. Ai ai! Que venha o bendito frio, mas que demore a chegar e passe rápido, ou pelo menos que seja bem menos traumático do que pintam.

Por falar em frio, semana passada fez um frio, que depois eu soube que era 11 C. Vi a galera se agasalhando na rua, em especial protengendo o pescoço. Fiquei feliz porque percebi que não é todo mundo mega resistente. As pessoas sentem frio quando faz frio e acredito que os conselhos de investir em um bom casaco valem a pena ser ouvidos.

Mas esse calor todo, pra mim nem tem sido tão traumático, apesar de ser muito calorento. Por uma simples razão: Estou o dia inteiro no ar condicionado da Agência, trabalhando! Sim! Estou trabalhando! Satisfeito demais. Estou no caixa do Movimento Desjardins. E se querem saber, estou gostando. As pessoas em geral são simpáticas e pacientes. Quando não entendo algo, os colegas ajudam, quando demoro tem clientes que perguntam: Ah! Você está em treinamento, né! Não se preocupe, o começo é difícil, mesmo, faça no seu tempo! Não me lembro de ter ouvido isso no meu período de caixa bancário do Setor Comercial Sul... Bons tempos que me ajudaram a fazer o que faço hoje.

Sei que esse assunto trabalho desperta interesse, por isso vou tomar um pouco mais de tempo nisso. Na minha opinião tem algumas questões-chave que envolvem a empregabilidade. Vou ser repetitivo, mas com conhecimento de causa: a primeira das questões é FALAR FRANCÊS! Nem tem tanto que ser o daqui (melhor se der pra ser), mas saber se comunicar é essencial em qualquer cultura. Tem gente com currículo muito bom , mas que pela falta de domínio do francês demora a conseguir emprego na área. Ainda sendo repetitivo, fazer um bom projeto ajuda tudo! Ganha-se muito tempo quando se tem foco e prazos. Aqui as possibilidades são mil e se a gente não tivesse vindo com um foco e planos A, B, C e D a gente ficaria mais cansado do que fica às vezes e talvez se perdesse em meio a tantas possibilidades. Tipo: estudar ou trabalhar, estudar na minha área para trabalhar ou trabalhar para depois me aperfeiçoar. E essa cadeia vai ad infinitum. Tem uma frase que diz que nenhum vento ajuda o barco que não sabe onde vai. Por isso o projeto. É bom tê-lo na mente, mas também saber a hora de seguir para o plano B. Importante também é um bom currículo. O modelo que usei, que foi bem elogiado, está disponível no emploi quebec (vale a pena gastar tempo destrichando essa ferramenta). Valeram também as correções ortográficas e gramaticais que pedi aos professores de francês que encontrei. Entrevista, me parece que valem as mesmas linhas gerais, do tipo, vestimenta adequada, nem de mais nem de menos, bons modos, sinceridade, etc. Mais uma vantagem é que quem vem falando francês já chega bilingue ou triligue, e pelo menos aqui na Cidade de Québec, isso ainda faz diferença.

Outra coisa que hoje gostariamos de ter feito para coroar nosso projeto era uma pesquisa exploratória. As coisas foram muito bem, mas acredito que teriamos ganhado mais tempo e gasto menos dinheiro vindo antes para conhecer. Isso é o que me parece.

Ainda falando do Emploi Quebec, pra quem quer se aprofundar, vale olhar no IMT en ligne a realidade do seu mercado de trabalho na região pretendida. Observar também os empregos sazonais (tipo cirque du Solieil) que podem ser um ótimo plano B, ou A... Mais importante ainda saber de algo que eles batem muito na tecla quando a gente chega por aqui: 75% das vagas disponíveis NÃO ESTÃO DIVULGADAS, o que eles chamam de Marché caché (mercado escondido). Ouvi isso da boca do chefe do accueil do MICC na capital, M. Phellipe Anctil. Por isso vale a pena se aprofundar na empresa ou setor que você quer e quem sabe mandar o currículo ainda do Brasil. Eu não fiz, mas conhecemos uma pessoa em Montreal que começou a negociar o emprego atual dela ainda do Brasil, pouco antes da entrevista do CSQ. Sem falar no caso do casal de cariocas, muito gente boa, que começaram a ser contratados fazendo compras no IKEA... Aqui acontecem coisas que só tenho coragem de reproduzir porque conheci as pessoas e ouvi da boca delas.

Agora, outra coisa que tenho percebido é que a média do padrão de vida é alta, mas não conheço ninguém ainda que ficou muito rico. A maioria das pessoas focam em Qualidade de vida, não necessariamente em grana. Vale a pena pensar nisso antes de vir: O que é qualidade de vida na sua opinião? Tem gente que acha que é ter mais que os outros. Eu acho discordo absolutamente. Todos poderem ter acesso a maioria dos bens, isso é o que acredito gerar socialmente qualidade de vida e implica em justiça social.

Ufa, hora de respirar!
Abraço forte

Pedro