terça-feira, 12 de maio de 2009

Vende-se tudo!


Belo Texto, para mim foi inspirador, espero que seja para todos!

Vende-se Tudo
Martha Medeiros

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.

O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.

Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá seiam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros. Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apegueia nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.

Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa. Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.

5 comentários:

Lidia Barreiros disse...

Que texto lindo mesmo....

é isso aí...a gente vai e os amigos e familiares vão junto...nas nossas memórias e corações.

Já tá chegando hein!
:P

Josafá e Bianca disse...

que maravilhoso esse texto...
quase chorei de ler, pois já estamos vendendo quase tudo que é nosso tambem.... buuáaaaa....
hahahaha....

Beijos!!!
BIanca e Josafá

Doug disse...

Vcs levaram um pedacinho de mim junto... mas sei que será bem cuidado. Je vous aime!

Debbie Luna disse...

Nada como estar ligado ao que se deseja!

Boas dicas das malas!

Texto perfeito para o momento!

Vcs no Canada e a gente indo pra Inglaterra! :)

Bj grande

Luhana disse...

Gostei muito do texto, me emocionei muito, eu que tenho um histórico de nômade e sempre sofro nas partidas, de hoje em diante passarei a olhar com outros olhos...
Eu e meu marido demos entrada no processo de imigração do Canadá, estamos na fase inicial ainda, na espera! hehehe
Boa sorte para vocês, que Deus abençoe!

bjs

Luh e fred